quarta-feira, 22 de setembro de 2010

Espetáculo flamenco em Santos

Oi, queridxs!
Depois de um longo tempo sem textos, volto para divulgar um espetáculo de flamenco, "Camino al Sur", que acontecerá aqui em Santos, nesta sexta-feira, 24/09, às 21h30 no Teatro Coliseu.

"A Companhia Soledad Barrio y Noche flamenca é reconhecida como a companhia itinerante de flamenco mais autêntica da atualidade, é aclamada pelos críticos por apresentar performances transcendentes e profundamente emocionais. Santangelo teve sucesso ao levar ao palco a essência, a pureza e a integridade de uma das formas de arte mais complexa e misteriosa, sem usar truques ou artifícios. Todos os aspectos do flamenco – dança e música - estão bravamente interligados e equilibrados nas apresentações de Noche Flamenca, criando um verdadeiro espírito comum dentro da companhia - o coração e a alma do flamenco.

A companhia tem como missão educar e esclarecer o público sobre o flamenco e para isso oferece programas de cursos extensivos que estão abertos para todas as idades. Noche Flamenca possui seus membros com sede na Espanha e é registrada como entidade sem fins lucrativos com sede e representação em Nova Iorque.

A integridade artística do Noche Flamenca foi reconhecida com os prêmios National Dance Project (2006), National Endowment for the Arts (2007 e 2008), e o prêmio Lucille Lortel de Melhor Esperiência Teatral (2003), entre outros.

O grupo procura criar um conjunto diversificado de performances teatrais através da música e da dança, apresentando uma forte preocupação com a estética e mostrando a magia do flamenco, ultrapassando as mais altas expectativas artísticas. A companhia se esforça para cativar seu público através de suas performances ao vivo e causar os sentimentos de paixão e emoção que estão presentes no flamenco." (do site http://www.santoscity.com.br/index.asp?InCdSecao=6&InCdEditoria=19&InCdMateria=2508&Companhia+internacional+de+Flamenco+pela+primeira+vez+no+Brasil+se+apresenta+no+Coliseu)

Ingressos a venda na bilheteria do teatro, das 14h às 19h, ou pelo Compre Ingressos.

sexta-feira, 16 de julho de 2010

Bob Clown...



Desenho do grande artista e amigo Bruno Pikdrato.

sábado, 26 de junho de 2010

Histórias reais

Geralmente, tenho mania de folhear os livros que pego para ler. Primeiro, a capa. Observo os detalhes, as imagens, a textura... leio a "orelha", quando tem... olho o índice e dou aquela bisbilhotada na forma como os capítulos de dividem, títulos...enfim...depois leio, vagarosamente.
Com esse livro foi diferente. Olhei a capa e decidi que não ia ver antecipadamente sequer uma página, nem a "orelha" eu li.
Bem, foi uma sábia decisão e talvez eu até procure fazer assim mais vezes.
Histórias reais, de Sophie Calle, foi surpreendente e gostoso a cada virada de página. Pesquisei um pouco sobre a autora... Ela utiliza a escrita, a fotografia, o vídeo e a performance. Realizou algumas exposições, uma delas no Sesc Pompeia, "Cuide de você". Segue o link sobre esse trabalho:
Como achei a surpresa a parte mais gostosa dessa leitura, não vou falar muito sobre o livro.
Fica a capa ... e a dica...




quarta-feira, 16 de junho de 2010

Uma história para um jogo de RPG que virou história... (Parte III)

Olá, amigxs!
Obrigadx a todxs pelos comentários, participações, intervenções, carinhos... sem isso não há razão, não há o estar entre...textos, reticências, leitores e...e...e...
Bom, vou postar agora a última parte da história. A última por enquanto. Essa coisa de resgatar o texto e colocá-lo no blog me deu vontade de continuar a história de Marie, mesmo sem jogo. Não sei, é uma ideia, vamos ver no que dá. Por hora, deixo vocês com a última parte da história sem fim de Marie.
Beijos e afagos!

***

Sinto falta de Ramón. Não foi meu único homem, mas o único que amei e dediquei minhas palavras. Minha mãe nunca soube, mas quando ainda era viva e morávamos em Paris, precisei de alguns homens sujos para conseguir algum dinheiro para a casa. Ramón me olhava nos olhos. Ele tinha notas musicais saindo dos dedos. Deixei-o para salvá-lo da morte. O gosto de sangue estava chegando e não sei como, mas sabia que não resistiria por muito tempo.

...

Há oito anos não sou mais. Me sentia observada há semanas e naquela noite veio a dor e o esquecimento. Não me lembro de muita coisa... só do homem alto, forte e grisalho, das garras, do “abraço”, do sangue e da dor. Aquela noite me perturba. Não sei bem quanto tempo tudo aquilo durou. Me lembro de voltar para casa e Savoir, meu cachorro na época, lamber meus pés. Me deitei ao lado de Ramón, dei-lhe um beijo e veio o gosto de sangue. Ele permaneceu dormindo e depois o sangue de Savoir...e a noite. Nunca me perdoei pela morte de Savoir. Desde então, procuro pelo homem que me tirou a luz e fujo de Ramón.

...

Certa vez, na Itália, isso deve fazer uns 5 ou 6 anos, estava com Soleil na rua, sentada na calçada, perto de um bueiro. Escrevi algo sobre dor e sangue, minha vida, e joguei no bueiro. Fiquei ali por mais algum tempo e vi uma mão sair do esgoto e me entregar um papel com os dizeres: “Sinto o gosto”. Percebi que aquela mão era como eu. Foi meu primeiro “encontro” com alguém que sabia quem eu havia me tornado...

Marie.


quarta-feira, 9 de junho de 2010

Uma história para um jogo de RPG que virou história... (Parte II)

Minha mãe era espanhola. Mudou-se para Paris aos 19 anos e sonhava ganhar a vida com dança e ser escritora. Contava que seria como os glamurosos escritores franceses, passaria os dias sentada em um aconchegante café, à meia luz, papel e caneta sobre a mesa. Adorava escrever e escrevia bem, suas histórias eram fascinantes. Acabou tornando-se prostituta ... e eu nunca soube de meu pai. Quando eu tinha 5 anos ela começou a me ensinar o flamenco, o que se tornou minha carne. Deixou em mim certo gosto pela escrita e pelos livros e embora eu não queira saber de ser escritora, me alivia escrever tolices neste caderno. Minha mãe – Carmen era o nome dela – morreu quando eu tinha 17 anos. A esta altura eu já havia terminado os estudos básicos em um colégio simples de Paris e trabalhava como garçonete em um café. Era uma pena que minha mãe não estivesse lá, naquele cantinho a meia luz, escrevendo suas histórias...

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Sempre gostei de animais, em especial de cães. Nunca passei muito tempo sem a companhia deles. Há sete anos Soleil me achou em Nice, uma cidadezinha no sul da França. Um lindo cão bege, de tamanho médio. Estava muito fraco na ocasião que me encontrou. Soleil hoje é meu único amigo, o único que me ouve, me protege e acompanha. A única luz que vejo, a única vida que me guia.

...

- Marie -

(continua...)

quarta-feira, 2 de junho de 2010

Uma história para um jogo de RPG que virou história... (Parte I)

Nunca fui uma boa narradora. Mas às vezes me permito escrever histórias... essa história – que vou postar aqui em partes - foi escrita para um jogo de RPG, em meados de 2005...Vampiro - A Máscara... ela não tem fim, pretendia terminá-la de acordo com o jogo, quem sabe um dia eu não termine... O jogo? Não rolou...virou história... e Marie continua por aí, perdida com os cães, procurando o homem que lhe tirou a luz... Ramón e sua música também continuam a procurar pelas escassas palavras e pelos pés precisos de Marie...

...

"Marie sempre foi muito sedutora. Olhos escuros e boca grande, pronta para ser beijada a qualquer instante... e como era bom beijá-la... Dominava bem a dança flamenca, que havia aprendido com sua mãe. Quando dançava era como se o tempo parasse para senti-la. A conheci quando ela trabalhava como garçonete em um escuro café de Paris, em 1982, ela tinha 19 anos e eu havia saído da Espanha há pouco tempo. Falava pouco, muito pouco, gostava mesmo era de olhar e falar com os pés e as mãos. Depois de uma semana indo ao café começamos a sair e consegui que ela falasse mais de cinco frases curtas. Passamos os treze anos seguintes juntos. Em 1984 decidimos deixar Paris e seguir viajando. Não costumávamos ficar mais de dois anos em um mesmo lugar e conseguíamos o dinheiro necessário à sobrevivência fazendo algumas apresentações nas ruas, bares e restaurantes. Eu ao violão e Marie dançando com a facilidade com que piscava. Certo dia, quando morávamos em uma pensão de Londres,há oito anos, Marie saiu à noite para uma apresentação em um restaurante espanhol. Savoir, nosso cão, ficou comigo – ele costumava acompanhá-la a todos os lugares, mas neste dia não moveu sequer o rabo quando a viu saindo. Ela demorou três dias para voltar e se foi na mesma noite em que chegou. Acordei pela manhã e encontrei Savoir morto, todo ensangüentado, e um bilhete de Marie... não me procure mais e blá, blá, blá... assim, sem muitas explicações, ela sumiu..."

- Ramón -

quarta-feira, 28 de abril de 2010

Resistir ... verbo transitivo e intransitivo

Esses tempos pensei em desistir do blog... uma piração... me indaguei, questionei, achei que ele estava desviando a minha atenção. Mas aí me lembrei do significado da palavra RESISTIR...

re.sis.tir (lat resistere) 1 Opor força ou resistência 2 Não ceder, não se dobrar; opor força à força; defender-se 3 Fazer face a (um poder superior); opor-se 4 Conservar-se firme e inabalável, não sucumbir 5 Não aceder, negar-se, recusar-se 6 Sofrer, suportar 7 Conservar-se, durar, subsistir 8 Oferecer resistência a.

Pensei, pensei e pensei... por que se livrar de algo que liberta? Mesmo que seja obscuro(?), mesmo que seja esporádico, mesmo que seja solitário, mesmo que faça me perder um pouco... me livrar dele seria mais uma resignação... e chega de resignações... Eu quero mais é conjugar as resistências!

sexta-feira, 16 de abril de 2010

Devir-palavra...

Minha casa é povoada de livros. Tem muito mais livro do que gente e palavras ditas pela boca. Mas, de alguma maneira esses livros fazem com que tenha tanta gente por aqui. Gente que eu não conheço, que eu nunca li. Quanto mais olho para essa gente-livro mais sinto vontade de devorá-las pelos olhos... mas como me falta tempo...ou me falta ou não sei esculpí-lo, para usar as palavras de Tarkovski. É uma sensação de que por mais que eu os coma um a um não vai dar tempo de nutrir o corpo com tudo que ele precisa para ser palavra...
Estar todos os dias entressestextos faz-me sentir vazio...que paradoxo...a casa é cheia e eu sou vazio... dizer, dizer e dizer e querer e não ser... não ser gente-livro, não ser gente-lida... é escrever para os fantasmas do meu próprio pensamento, ser para o vento do cotidiano-sobrevivência, que passa e leva tudo que eu quero ser pra eu ter que recomeçar outra vez.
Mas o que é ser gente entretextos? É ser sempre querer mais ou se contentar com o que é? É resignar-se ou transformar-se dia a dia?
Sim, eu leio todos os dias, mas não o que eu queria...pura resignação... provas e trabalhos e fórmulas e petições... (Uma petição é um poema e um poema é uma petição?) ... vazio povoado de encontros em sonho... o sonho do encontro com a palavra maldita e bendita...
... Enquanto há sonho e desejo e querer ser, há caminho a ser construído ... por isso continuo construindo a estrada, desviando das pedras rolantes que teimam em querer passar por cima de mim, buscando romper o tic-tac e convertê-lo em fluidez, desviando a estrada, fazendo curvas entre os livros e palavras e gentes que habitam minha casa e nutrem os desejos... o devir-palavra... vazio e povoado...

quinta-feira, 15 de abril de 2010

quarta-feira, 14 de abril de 2010

Bodas de Sangue ... gestos e devires e paixões

“No devir, não há passado nem futuro, nem mesmo presente,não há história. No devir, trata-se antes de involuir: não é nem regressar, nem progredir. Devir, é devir cada vez mais sóbrio, cada vez mais simples, devir cada vez mais deserto, e por isso mesmo povoado” (DELEUZE, G. & PARNET, C.: Diálogos, 1988, p.14)

Minha história com o cinema é longa, remonta à infância, quando histórias em imagens de personagens encantados me fascinavam. Impossível esquecer a primeira vez que fui ao cinema sem os meus pais. Eu devia ter uns nove anos, fui com uma amiga e a mãe dela nos deixou e foi nos buscar na porta do cinema (bons tempos em que a cidade de Santos tinha cinemas de rua e não nos shoppings). O filme era Jurassic Park, hoje, nada de especial ou um grande filme, mas na época uma experiência incrível...aquela sala imensa, escura e aquela tela branca que de repente se transformou em puro encantamento do olhar... gritos, mãos nos olhos...êxtase.

Passado muito tempo, no período da faculdade, me encantei com a Nouvelle Vague francesa...poesia em movimento! Foi a partir daí que comecei a estudar sobre cinema... linguagem, escolas, cineastas, análises ... mergulho. Porém, somente em 2005, ainda na faculdade, o cinema me proporcionou algo que até então eu não havia experimentado: sentir a imagem no corpo. Só nesse momento eu entendi o porquê de gritos e lágrimas e risos e arrepios e tantas outras sensações corporais frente a determinados filmes. Alguns filmes proporcionam uma satisfação tão plena que atingem diretamente o corpo, filmes que são compreendidos e sentidos não apenas pelo intelecto, mas através do corpo, porque surge uma identificação tão intensa que o corpo vive... um devir, sem futuro, sem presente, sem história, apenas povoado de encontros. O filme que me despertou esses sentimentos foi Bodas de Sangue, de Carlos Saura.

Embora os filmes de dança de Saura sejam considerados por muitos críticos e teóricos a parte menos significativa de sua produção, eles produziram em mim um efeito jamais imaginado: DANÇAR! Quando assisti Bodas de Sangue senti o corpo gritar pelo flamenco, era aquilo que eu queria fazer para alimentar meu espírito, para expressar minhas dores e alegrias...eu queria expressá-las pelo corpo. Fascínio...encontro!

Passei a estudar flamenco e também não abandonei o cinema, afinal, foi a partir dele que encontrei os sentidos que meu corpo podiam ter. Com o passar do tempo, esses dois estudos paralelos e ao mesmo tempo cruzados me levaram à elaboração de uma pesquisa que os encontrou. Começou a me intrigar a forma como Saura contava uma história no cinema através, exclusivamente, da dança, sem diálogos, sem cenas externas, sem cenários que remetessem diretamente à história contada.

Bodas de Sangue me proporcionou transformações e criações e conquistas e encontros...me fez perceber a intensidade dos gestos, os sentidos e significados que o corpo é capaz de produzir... me fez (e faz) vivenciar o devir-bailarina e o devir-estudante e o devir-artista e o devir-espectadora e...e...e...e... me fez estar entre as coisas, entre as imagens, entre os gestos, entre a técnica e a intuição, entre o corpo e o espírito.

(continua ...)

quinta-feira, 25 de março de 2010

Aos amigxs-irmxs (ou antes e hoje)

Antes a gente pirava com roteiros de filmes e música
Hoje piramos com (e em) infinidades "internéticas"...imagem, som, palavra...
Comunicação em trans-formação... em devir...
(por que não romantizar o presente?)
Antes a gente pirava com gravadores
Hoje desafiamos a nossa própria memória
Antes a gente era viciado em literatura beat
Hoje a literatura beat está em nós e piramos com literaturas
(Sim, os beats ainda andam por aí...)
Antes nosso trabalho era estudar e criar "mirabolâncias"
Hoje estudar e criar "mirabolâncias" é nossa diversão
Antes os amigxs-irmxs eram nossa vida... e hoje também! ... o aconchego daqueles que respiram amores e liberdades individuais e coletivos ... que querem a liberdade junto com a gente ... até na hora de brigar, acalmar e começar tudo novamente...
... Amores incondicionais povoados de liberdades incondicionais...
... Sim, as coisas, os tempos, as necessidades, os cotidianos, os desejos mudam...
... Os amores dos amigxs-irmxs continuam a nos sustentar!
Que bom ter companheirxs que dividem a vida, o olhar livre de amarras e convenções... que nos querem livres, com nossos próprios pensamentos e sentires...
Obrigada, amigxs-irmxs! Resistência, amor e liberdade incondicional para vocês e com vocês!

quarta-feira, 17 de março de 2010

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Entre presenças e ausências, hoje fico com as companhias!

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Fragmento da paixão

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Sim, o que move meus dias é paixão. Alguns dizem que é coisa do signo, outros que é estilo de vida ... uns acham que é defeito, outros que é qualidade... classificações à parte, o que move meus dias é paixão, nas suas presenças e ausências! Fato e ponto.

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sábado, 13 de março de 2010

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Entre gritos e sussurros, hoje fico com os sussurros!

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sexta-feira, 12 de março de 2010

Fragmento das metades

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Presenças cheias de ausência...
Ouvir e não ver...
Falar e não fazer...
Querer e não se mover...
Se irritar, esbravejar e se arrepender...
Dormir e não descansar...
Ter necessidade mas não ter coragem...
Ter necessidade mas estar cheia de preguiça...
Querer escrever e só rabiscar...
Querer mergulhar e só molhar o pé...

Aqui me encerro ... para juntar as metades... para voltar a ser inteiro!

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Fragmento de uma manhã... (raivosa?)

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Hoje acordei pensando: Não deixarei minhas emoções entregues aos hormônios!!! Pro inferno a TPM...
Essa coisa do "ser mulher"...estar entregue aos hormônios, ao sangue, ao útero... será que tudo isso, dessa maneira tão forte e diferenciadora, não é pura construção político-cultural tão internalizada pelos mecanismos de coerção que a gente esquece que somos apenas seres humanos...todos iguais...cheios de emoções atormentadoras, infantis às vezes?
Por que a "mulher" tem que ser a figura frágil, atordoada de sentimentos, descontrolada emocional? E as fragilidades, emoções e descontroles "masculinos"?
(Quero ser dona das minhas emoções...livre de determinações hormonais, culturais...ais...ais...)

...longa discussão... longa reflexão...conclusões incertas...

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segunda-feira, 8 de março de 2010

Em busca da simplicidade...(?)

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Perder-se... no cotidiano que sufoca, nas faltas de atenção, nos inimigos que emanam do próprio pensamento, nas pernas cansadas e no peso das mãos...perder-se nos detalhes... que de tão simples se fazem perdidos e atormentadores... se tornam tão grandes....
O exagero...o grande mal da humanidade?
Sigo em busca da simplicidade do detalhe...batalha árdua...pois é nessa simplicidade que eles se tornam tão pouco compreensivos à nossa racionalidade colonizada... cheia de complexidades compradas, importadas...inúteis... (mas indispensáveis à existência???)

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domingo, 7 de março de 2010

Escrita do fragmento

Escrever em fragmentos é um vício. Surgiu como algo instintivo...em busca de uma liberdade estilística e fugindo dos padrões dos elementos constitutivos de cada gênero literário. Durante muito tempo foi isso. Uma utilização sem consciência. Uma simpatia não declarada. Uma facilidade...estar à vontade com a palavra.
De uns tempos prá cá – eu não saberia precisar...para algumas coisas ou tarefas não sentimos necessidade de medir o tempo – voltando... passei a, esporadicamente, buscar informações sobre o tema...

E nessa busca recente começou a aparecer um pouco do que vem agora e daqui por diante e que passarei a compartilhar com outros olhares...entretextos...entrelinhas...e reticências... em devir...em fragmentos

: (dois pontos)

Apareceu muito Roland Barthes... sobre escrever...sobre escrita...sobre fragmentos...

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“Saber que não escrevemos para o outro, saber que essas coisas que vou escrever jamais me farão amado de quem amo, saber que a escrita não compensa nada, não sublima nada, que ela esta precisamente ali onde você não está – é o começo da escrita.” Roland Barthes – Fragmentos de um discurso amoroso.

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“Escrever por fragmentos : os fragmentos são então pedras sobre o contorno do círculo: espalho-me à roda: todo o meu pequeno universo em migalhas; no centro, o quê?” Roland Barthes Roland Barthes por Roland Barthes, p.108
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“Toda lei que oprime um discurso é insuficientemente fundamentada.” Roland Barthes Roland Barthes por Roland Barthes, p.44
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“Muitos textos de vanguarda (ainda não publicados) são incertos: como julgá-los, retê-los, como predizer-lhes um futuro, imediato ou longínquo? Eles agradam? Aborrecem? Sua qualidade evidente é de ordem intencional: eles se apressam a servir à teoria. No entanto, essa qualidade é também uma chantagem (uma chantagem à teoria): goste de mim, guarde-me, defenda-me, já que eu sou conforme à teoria que você reclama; não estou fazendo o que fizeram Artaud, Cage, etc.? – Mas Artaud não é somente ‘vanguarda’; é também escritura; Cage tem também sedução...” Roland Barthes Roland Barthes por Roland Barthes, p.67

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“Para que serve a utopia? Para fazer sentido. [...] A utopia é familiar ao escritor, porque o escritor é um doador de sentido: sua tarefa (ou seu gozo) consiste em dar sentidos, nomes, e ele só o pode fazer se houver paradigma, desencadeamento do sim/não, alternância de dois valores: para ele, o mundo é uma medalha, uma moeda, uma dupla superfície de leitura, cujo avesso é ocupado por sua própria realidade e cujo direito, pela utopia.” Roland Barthes Roland Barthes por Roland Barthes, p.91
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“A elipse, figura mal conhecida, é perturbadora pelo fato de representar a assustadora liberdade da linguagem [...]”.Roland Barthes Roland Barthes por Roland Barthes, p.93.

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“Comentar-me? Que tédio! Eu não tinha outra solução a não ser a de me re-escrever – de longe, de muito longe – de agora: acrescentar aos livros, aos temas, às lembranças, aos textos, uma outra enunciação, sem saber jamais se é de meu passado ou de meu presente que falo. Lanço assim sobre a obra escrita, sobre o corpo e o corpus passados, tocando-os de leve, uma espécie de de patchwork, uma coberta rapsódica feita de quadrados costurados. Longe de aprofundar, permaneço na superfície, porque desta vez se trata de ‘mim’ do Eu) e porque a profundidade pertence aos outros.” Roland Barthes . Roland Barthes por Roland Barthes, p. 160

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Escrever, para Barthes, "é colocar-se num imenso intertexto, quer dizer: colocar a própria linguagem, a sua própria produção de linguagem, no próprio infinito da linguagem”. (Roland Barthes. Para/ou onde vai a literatura. In:VÁRIOS. Escrever... para quê? Para quem? Lisboa, Edições 70, 1975)

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E apareceu Deleuze também...

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"Ao escrevermos, como evitar que escrevamos sobre aquilo que não sabemos ou que sabemos mal? É necessariamente neste ponto que imaginamos ter algo a dizer. Só escrevemos na extremidade de nosso próprio saber, nesta ponta extrema que separa nosso saber e nossa ignorância e que transforma um no outro. É só deste modo que somos determinados a escrever. Suprir a ignorância é transferir a escrita para depois ou, antes, torná-la impossível. Talvez tenhamos aí, entre a escrita e a ignorância, uma relação ainda mais ameaçadora que a relação apontada entre a escrita e a morte, entre a escrita e o silêncio”. (Gilles Deleuze)

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FRAGMENTANDO-ME...

quarta-feira, 3 de março de 2010

Canção


O peso do mundo
é o amor.
Sob o fardo
da solidão,
sob o fardo
da insatisfação

o peso
o peso que carregamos
é o amor.

Quem poderia negá-lo?
Em sonhos
nos toca
o corpo,
em pensamentos
constrói
um milagre,
na imaginação
aflige-se
até tornar-se
humano -

sai para fora do coração
ardendo de pureza -
pois o fardo da vida
é o amor,

mas nós carregamos o peso
cansados
e assim temos que descansar
nos braços do amor
finalmente
temos que descansar nos braços
do amor.

Nenhum descanso
sem amor,
nenhum sono
sem sonhos
de amor -
quer esteja eu louco ou frio,
obcecado por anjos
ou por máquinas,
o último desejo
é o amor
- não pode ser amargo
não pode ser negado
não pode ser contido
quando negado:

o peso é demasiado

- deve dar-se
sem nada de volta
assim como o pensamento
é dado
na solidão
em toda a excelência
do seu excesso.

Os corpos quentes
brilham juntos
na escuridão,
a mão se move
para o centro
da carne,
a pele treme
na felicidade
e a alma sobe
feliz até o olho -

sim, sim
é isso que
eu queria,
eu sempre quis,
eu sempre quis
voltar
ao corpo
em que nasci.

Allen Ginsberg

inícios...

Inícios são sempre difíceis... o mais difícil de realizar alguma coisa é começar...
Um texto começa num suspiro, uma reticência é um suspiro...é um estar entre...
...esse blog começou num suspiro...entre sentimentos que transbordam... eu me transbordo...

... TRANSBORDEM-SE!