domingo, 7 de março de 2010

Escrita do fragmento

Escrever em fragmentos é um vício. Surgiu como algo instintivo...em busca de uma liberdade estilística e fugindo dos padrões dos elementos constitutivos de cada gênero literário. Durante muito tempo foi isso. Uma utilização sem consciência. Uma simpatia não declarada. Uma facilidade...estar à vontade com a palavra.
De uns tempos prá cá – eu não saberia precisar...para algumas coisas ou tarefas não sentimos necessidade de medir o tempo – voltando... passei a, esporadicamente, buscar informações sobre o tema...

E nessa busca recente começou a aparecer um pouco do que vem agora e daqui por diante e que passarei a compartilhar com outros olhares...entretextos...entrelinhas...e reticências... em devir...em fragmentos

: (dois pontos)

Apareceu muito Roland Barthes... sobre escrever...sobre escrita...sobre fragmentos...

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“Saber que não escrevemos para o outro, saber que essas coisas que vou escrever jamais me farão amado de quem amo, saber que a escrita não compensa nada, não sublima nada, que ela esta precisamente ali onde você não está – é o começo da escrita.” Roland Barthes – Fragmentos de um discurso amoroso.

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“Escrever por fragmentos : os fragmentos são então pedras sobre o contorno do círculo: espalho-me à roda: todo o meu pequeno universo em migalhas; no centro, o quê?” Roland Barthes Roland Barthes por Roland Barthes, p.108
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“Toda lei que oprime um discurso é insuficientemente fundamentada.” Roland Barthes Roland Barthes por Roland Barthes, p.44
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“Muitos textos de vanguarda (ainda não publicados) são incertos: como julgá-los, retê-los, como predizer-lhes um futuro, imediato ou longínquo? Eles agradam? Aborrecem? Sua qualidade evidente é de ordem intencional: eles se apressam a servir à teoria. No entanto, essa qualidade é também uma chantagem (uma chantagem à teoria): goste de mim, guarde-me, defenda-me, já que eu sou conforme à teoria que você reclama; não estou fazendo o que fizeram Artaud, Cage, etc.? – Mas Artaud não é somente ‘vanguarda’; é também escritura; Cage tem também sedução...” Roland Barthes Roland Barthes por Roland Barthes, p.67

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“Para que serve a utopia? Para fazer sentido. [...] A utopia é familiar ao escritor, porque o escritor é um doador de sentido: sua tarefa (ou seu gozo) consiste em dar sentidos, nomes, e ele só o pode fazer se houver paradigma, desencadeamento do sim/não, alternância de dois valores: para ele, o mundo é uma medalha, uma moeda, uma dupla superfície de leitura, cujo avesso é ocupado por sua própria realidade e cujo direito, pela utopia.” Roland Barthes Roland Barthes por Roland Barthes, p.91
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“A elipse, figura mal conhecida, é perturbadora pelo fato de representar a assustadora liberdade da linguagem [...]”.Roland Barthes Roland Barthes por Roland Barthes, p.93.

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“Comentar-me? Que tédio! Eu não tinha outra solução a não ser a de me re-escrever – de longe, de muito longe – de agora: acrescentar aos livros, aos temas, às lembranças, aos textos, uma outra enunciação, sem saber jamais se é de meu passado ou de meu presente que falo. Lanço assim sobre a obra escrita, sobre o corpo e o corpus passados, tocando-os de leve, uma espécie de de patchwork, uma coberta rapsódica feita de quadrados costurados. Longe de aprofundar, permaneço na superfície, porque desta vez se trata de ‘mim’ do Eu) e porque a profundidade pertence aos outros.” Roland Barthes . Roland Barthes por Roland Barthes, p. 160

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Escrever, para Barthes, "é colocar-se num imenso intertexto, quer dizer: colocar a própria linguagem, a sua própria produção de linguagem, no próprio infinito da linguagem”. (Roland Barthes. Para/ou onde vai a literatura. In:VÁRIOS. Escrever... para quê? Para quem? Lisboa, Edições 70, 1975)

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E apareceu Deleuze também...

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"Ao escrevermos, como evitar que escrevamos sobre aquilo que não sabemos ou que sabemos mal? É necessariamente neste ponto que imaginamos ter algo a dizer. Só escrevemos na extremidade de nosso próprio saber, nesta ponta extrema que separa nosso saber e nossa ignorância e que transforma um no outro. É só deste modo que somos determinados a escrever. Suprir a ignorância é transferir a escrita para depois ou, antes, torná-la impossível. Talvez tenhamos aí, entre a escrita e a ignorância, uma relação ainda mais ameaçadora que a relação apontada entre a escrita e a morte, entre a escrita e o silêncio”. (Gilles Deleuze)

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FRAGMENTANDO-ME...

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