quarta-feira, 28 de abril de 2010

Resistir ... verbo transitivo e intransitivo

Esses tempos pensei em desistir do blog... uma piração... me indaguei, questionei, achei que ele estava desviando a minha atenção. Mas aí me lembrei do significado da palavra RESISTIR...

re.sis.tir (lat resistere) 1 Opor força ou resistência 2 Não ceder, não se dobrar; opor força à força; defender-se 3 Fazer face a (um poder superior); opor-se 4 Conservar-se firme e inabalável, não sucumbir 5 Não aceder, negar-se, recusar-se 6 Sofrer, suportar 7 Conservar-se, durar, subsistir 8 Oferecer resistência a.

Pensei, pensei e pensei... por que se livrar de algo que liberta? Mesmo que seja obscuro(?), mesmo que seja esporádico, mesmo que seja solitário, mesmo que faça me perder um pouco... me livrar dele seria mais uma resignação... e chega de resignações... Eu quero mais é conjugar as resistências!

sexta-feira, 16 de abril de 2010

Devir-palavra...

Minha casa é povoada de livros. Tem muito mais livro do que gente e palavras ditas pela boca. Mas, de alguma maneira esses livros fazem com que tenha tanta gente por aqui. Gente que eu não conheço, que eu nunca li. Quanto mais olho para essa gente-livro mais sinto vontade de devorá-las pelos olhos... mas como me falta tempo...ou me falta ou não sei esculpí-lo, para usar as palavras de Tarkovski. É uma sensação de que por mais que eu os coma um a um não vai dar tempo de nutrir o corpo com tudo que ele precisa para ser palavra...
Estar todos os dias entressestextos faz-me sentir vazio...que paradoxo...a casa é cheia e eu sou vazio... dizer, dizer e dizer e querer e não ser... não ser gente-livro, não ser gente-lida... é escrever para os fantasmas do meu próprio pensamento, ser para o vento do cotidiano-sobrevivência, que passa e leva tudo que eu quero ser pra eu ter que recomeçar outra vez.
Mas o que é ser gente entretextos? É ser sempre querer mais ou se contentar com o que é? É resignar-se ou transformar-se dia a dia?
Sim, eu leio todos os dias, mas não o que eu queria...pura resignação... provas e trabalhos e fórmulas e petições... (Uma petição é um poema e um poema é uma petição?) ... vazio povoado de encontros em sonho... o sonho do encontro com a palavra maldita e bendita...
... Enquanto há sonho e desejo e querer ser, há caminho a ser construído ... por isso continuo construindo a estrada, desviando das pedras rolantes que teimam em querer passar por cima de mim, buscando romper o tic-tac e convertê-lo em fluidez, desviando a estrada, fazendo curvas entre os livros e palavras e gentes que habitam minha casa e nutrem os desejos... o devir-palavra... vazio e povoado...

quinta-feira, 15 de abril de 2010

quarta-feira, 14 de abril de 2010

Bodas de Sangue ... gestos e devires e paixões

“No devir, não há passado nem futuro, nem mesmo presente,não há história. No devir, trata-se antes de involuir: não é nem regressar, nem progredir. Devir, é devir cada vez mais sóbrio, cada vez mais simples, devir cada vez mais deserto, e por isso mesmo povoado” (DELEUZE, G. & PARNET, C.: Diálogos, 1988, p.14)

Minha história com o cinema é longa, remonta à infância, quando histórias em imagens de personagens encantados me fascinavam. Impossível esquecer a primeira vez que fui ao cinema sem os meus pais. Eu devia ter uns nove anos, fui com uma amiga e a mãe dela nos deixou e foi nos buscar na porta do cinema (bons tempos em que a cidade de Santos tinha cinemas de rua e não nos shoppings). O filme era Jurassic Park, hoje, nada de especial ou um grande filme, mas na época uma experiência incrível...aquela sala imensa, escura e aquela tela branca que de repente se transformou em puro encantamento do olhar... gritos, mãos nos olhos...êxtase.

Passado muito tempo, no período da faculdade, me encantei com a Nouvelle Vague francesa...poesia em movimento! Foi a partir daí que comecei a estudar sobre cinema... linguagem, escolas, cineastas, análises ... mergulho. Porém, somente em 2005, ainda na faculdade, o cinema me proporcionou algo que até então eu não havia experimentado: sentir a imagem no corpo. Só nesse momento eu entendi o porquê de gritos e lágrimas e risos e arrepios e tantas outras sensações corporais frente a determinados filmes. Alguns filmes proporcionam uma satisfação tão plena que atingem diretamente o corpo, filmes que são compreendidos e sentidos não apenas pelo intelecto, mas através do corpo, porque surge uma identificação tão intensa que o corpo vive... um devir, sem futuro, sem presente, sem história, apenas povoado de encontros. O filme que me despertou esses sentimentos foi Bodas de Sangue, de Carlos Saura.

Embora os filmes de dança de Saura sejam considerados por muitos críticos e teóricos a parte menos significativa de sua produção, eles produziram em mim um efeito jamais imaginado: DANÇAR! Quando assisti Bodas de Sangue senti o corpo gritar pelo flamenco, era aquilo que eu queria fazer para alimentar meu espírito, para expressar minhas dores e alegrias...eu queria expressá-las pelo corpo. Fascínio...encontro!

Passei a estudar flamenco e também não abandonei o cinema, afinal, foi a partir dele que encontrei os sentidos que meu corpo podiam ter. Com o passar do tempo, esses dois estudos paralelos e ao mesmo tempo cruzados me levaram à elaboração de uma pesquisa que os encontrou. Começou a me intrigar a forma como Saura contava uma história no cinema através, exclusivamente, da dança, sem diálogos, sem cenas externas, sem cenários que remetessem diretamente à história contada.

Bodas de Sangue me proporcionou transformações e criações e conquistas e encontros...me fez perceber a intensidade dos gestos, os sentidos e significados que o corpo é capaz de produzir... me fez (e faz) vivenciar o devir-bailarina e o devir-estudante e o devir-artista e o devir-espectadora e...e...e...e... me fez estar entre as coisas, entre as imagens, entre os gestos, entre a técnica e a intuição, entre o corpo e o espírito.

(continua ...)