sábado, 26 de junho de 2010
Histórias reais
quarta-feira, 16 de junho de 2010
Uma história para um jogo de RPG que virou história... (Parte III)
Sinto falta de Ramón. Não foi meu único homem, mas o único que amei e dediquei minhas palavras. Minha mãe nunca soube, mas quando ainda era viva e morávamos em Paris, precisei de alguns homens sujos para conseguir algum dinheiro para a casa. Ramón me olhava nos olhos. Ele tinha notas musicais saindo dos dedos. Deixei-o para salvá-lo da morte. O gosto de sangue estava chegando e não sei como, mas sabia que não resistiria por muito tempo.
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Há oito anos não sou mais. Me sentia observada há semanas e naquela noite veio a dor e o esquecimento. Não me lembro de muita coisa... só do homem alto, forte e grisalho, das garras, do “abraço”, do sangue e da dor. Aquela noite me perturba. Não sei bem quanto tempo tudo aquilo durou. Me lembro de voltar para casa e Savoir, meu cachorro na época, lamber meus pés. Me deitei ao lado de Ramón, dei-lhe um beijo e veio o gosto de sangue. Ele permaneceu dormindo e depois o sangue de Savoir...e a noite. Nunca me perdoei pela morte de Savoir. Desde então, procuro pelo homem que me tirou a luz e fujo de Ramón.
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Certa vez, na Itália, isso deve fazer uns 5 ou 6 anos, estava com Soleil na rua, sentada na calçada, perto de um bueiro. Escrevi algo sobre dor e sangue, minha vida, e joguei no bueiro. Fiquei ali por mais algum tempo e vi uma mão sair do esgoto e me entregar um papel com os dizeres: “Sinto o gosto”. Percebi que aquela mão era como eu. Foi meu primeiro “encontro” com alguém que sabia quem eu havia me tornado...
Marie.
quarta-feira, 9 de junho de 2010
Uma história para um jogo de RPG que virou história... (Parte II)
Minha mãe era espanhola. Mudou-se para Paris aos 19 anos e sonhava ganhar a vida com dança e ser escritora. Contava que seria como os glamurosos escritores franceses, passaria os dias sentada em um aconchegante café, à meia luz, papel e caneta sobre a mesa. Adorava escrever e escrevia bem, suas histórias eram fascinantes. Acabou tornando-se prostituta ... e eu nunca soube de meu pai. Quando eu tinha 5 anos ela começou a me ensinar o flamenco, o que se tornou minha carne. Deixou em mim certo gosto pela escrita e pelos livros e embora eu não queira saber de ser escritora, me alivia escrever tolices neste caderno. Minha mãe – Carmen era o nome dela – morreu quando eu tinha 17 anos. A esta altura eu já havia terminado os estudos básicos em um colégio simples de Paris e trabalhava como garçonete em um café. Era uma pena que minha mãe não estivesse lá, naquele cantinho a meia luz, escrevendo suas histórias...
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Sempre gostei de animais, em especial de cães. Nunca passei muito tempo sem a companhia deles. Há sete anos Soleil me achou em Nice, uma cidadezinha no sul da França. Um lindo cão bege, de tamanho médio. Estava muito fraco na ocasião que me encontrou. Soleil hoje é meu único amigo, o único que me ouve, me protege e acompanha. A única luz que vejo, a única vida que me guia.
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- Marie -
(continua...)
quarta-feira, 2 de junho de 2010
Uma história para um jogo de RPG que virou história... (Parte I)
Nunca fui uma boa narradora. Mas às vezes me permito escrever histórias... essa história – que vou postar aqui em partes - foi escrita para um jogo de RPG, em meados de 2005...Vampiro - A Máscara... ela não tem fim, pretendia terminá-la de acordo com o jogo, quem sabe um dia eu não termine... O jogo? Não rolou...virou história... e Marie continua por aí, perdida com os cães, procurando o homem que lhe tirou a luz... Ramón e sua música também continuam a procurar pelas escassas palavras e pelos pés precisos de Marie...
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"Marie sempre foi muito sedutora. Olhos escuros e boca grande, pronta para ser beijada a qualquer instante... e como era bom beijá-la... Dominava bem a dança flamenca, que havia aprendido com sua mãe. Quando dançava era como se o tempo parasse para senti-la. A conheci quando ela trabalhava como garçonete em um escuro café de Paris, em 1982, ela tinha 19 anos e eu havia saído da Espanha há pouco tempo. Falava pouco, muito pouco, gostava mesmo era de olhar e falar com os pés e as mãos. Depois de uma semana indo ao café começamos a sair e consegui que ela falasse mais de cinco frases curtas. Passamos os treze anos seguintes juntos. Em 1984 decidimos deixar Paris e seguir viajando. Não costumávamos ficar mais de dois anos em um mesmo lugar e conseguíamos o dinheiro necessário à sobrevivência fazendo algumas apresentações nas ruas, bares e restaurantes. Eu ao violão e Marie dançando com a facilidade com que piscava. Certo dia, quando morávamos em uma pensão de Londres,há oito anos, Marie saiu à noite para uma apresentação em um restaurante espanhol. Savoir, nosso cão, ficou comigo – ele costumava acompanhá-la a todos os lugares, mas neste dia não moveu sequer o rabo quando a viu saindo. Ela demorou três dias para voltar e se foi na mesma noite em que chegou. Acordei pela manhã e encontrei Savoir morto, todo ensangüentado, e um bilhete de Marie... não me procure mais e blá, blá, blá... assim, sem muitas explicações, ela sumiu..."
- Ramón -